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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

É já amanhã!

Não esquecer!
Amanhã reunião em casa dos GP, preparamos nós.
Pedimos que sejam pontuais, por favor!!!!
Tema 2.

Até amanhã.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Recebemos da Filipa e dá lugar a várias divagações ...
 
No ventre de uma mulher grávida dois gêmeos dialogam:
- Você acredita em vida após o parto?
- Claro! Há de haver algo após o nascimento. Talvez estejamos aqui
principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos
mais tarde.
- Bobagem, não há vida após o nascimento. Afinal como seria essa vida?
- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui.
Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a nossa
boca.
- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É
totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Além disso,
andar não faz sentido pois o cordão umbilical é muito curto.
- Sinto que há algo mais. Talvez seja apenas um pouco diferente do que
estamos habituados a ter aqui.
- Mas ninguém nunca voltou de lá. O parto apenas encerra a vida. E
afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na
escuridão.
- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com
certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.
- Mamãe? Você acredita em mamãe? Se ela existe, onde ela está?
- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem
ela não existiríamos.
- Eu não acredito! Nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que ela não existe.
- Bem, mas ás vezes quando estamos em silêncio, posso ouvi-la
cantando, ou senti-la afagando nosso mundo. Eu penso que após o parto,
a vida real nos espera; e, no momento, estamos nos preparando para
ela.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O catolicismo português de ontem para amanhã

Aqui vai uma reflexão interessante de um dos mais lúcidos pensadores da hierarquia Católica, o Sr. D. Manuel Clemente, Bispo do Porto.


1. O catolicismo – ramo maioritário do cristianismo em Portugal – apresenta-se entre nós como instituição, como cultura e como proposta. Em qualquer destes pontos enfrenta grandes desafios, de ontem para amanhã. Como instituição, o individualismo (enquanto individualização); como cultura, o imediatismo (do “penso logo existo” ao “sinto logo existo”); como proposta, o tolerantismo (precisamente como não proposta).

2. Como instituição – a mais antiga entre nós na grande escala -, o catolicismo acentua e requer a vivência comunitária da religiosidade, fazendo dela um critério essencial.

As instituições existem em função das ideias que veiculam e inculcam, garantindo-lhes a transmissão e a vigência, tempo fora. Sendo essencial ao catolicismo a “ideia” de que Deus é uma realidade comunitária (unitrindade divina), de que só comunitariamente a pessoa é “imagem e semelhança de Deus”, Gn 1) e de que, em Jesus de Nazaré, Deus ganha humanidade e solicita relação, relação esta alargada a qualquer pessoa (“tive fome e destes-me de comer…”, Mt 25), tudo isto requer ao cristão-católico a vinculação indispensável a uma comunidade concreta e relativamente estável – família, paróquia, diocese…

Não admira por isso que a rede básica das circunscrições portuguesas tenha molde católico. Significativamente, a designação de paróquia (termo de origem civil) e freguesia (termo especificamente religioso), acabou por evoluir no sentido inverso ao inicial: contaminação semântica que tem na base a unidade de origem.

Hoje em dia porém, as instituições sobrevivem com dificuldades, dada a grande instabilidade dos itinerários individuais, tanto físicos como mentais. O cristianismo não é totalmente alheio a este movimento, dada a insistência original (de Cristo) na decisão de cada um, por exemplo. Mas a realização comunitária da religião mantém-se mal num mundo tão disperso e os ritmos comunitários de iniciação e prática cederam face a outros ritmos de socialização e encontro, mais particulares e variáveis. Alguns sociólogos dizem, sugestivamente, que estamos a passar do “praticante” ao “peregrino”…

3. Como cultura, o catolicismo enfrenta – mesmo dentro de si próprio – o enorme repto do aculturalismo difuso, marcado pela grande dificuldade de ponderação sobre tanta informação imediata.

Como sabemos, a cultura provém do cultivo, que dos campos passou ao espírito, permitindo refletir e decidir com mais substância e sossego. Na habitualidade católica das famílias e comunidades, transmitiam-se noções e práticas tradicionais, bem como valorizações adquiridas. Podiam ser mais ou menos respeitadas no concreto, mas eram geralmente aceites como norma e até como ideal.

A última metade do século XX trouxe-nos outra coisa, especialmente no hemisfério Norte. Um crescimento inusitado de meios de toda a ordem, especialmente materiais e informativos, a revisão constante de certezas adquiridas, a desconfiança pós-moderna em relação às pré e metanarrativas, a comercialização geral e publicitária dos gostos e comportamentos…

Estes e outros fatores dificultam ponderações comunitárias ou mesmo individuais, retraem para a sensibilidade ocasional, “cultivam” pouco ou nada as opções, reagem instintivamente às normas recebidas, desconfiam geralmente das instituições que as transportam. Como instituição quase global e mais antiga na sociedade portuguesa, o catolicismo sofre uma erosão permanente onde todos estes fatores concorrem, mesmo sem verificar o que se alega.

4. Não é este o ambiente mais propício às propostas concretas no campo religioso, especialmente o católico. Mesmo a rápida caracterização acima feita, evidencia a pouca recetividade em relação a elas.

Mais facilmente se aceita que cada um tenha ou deixe de ter esta ou aquela convicção, no descampado neutro em que parecemos estar. As afirmações definidas dalgum crente são facilmente tomadas como fanatismo ou despropósito; a proposta que faça a terceiros dum caminho religioso, uma intromissão abusiva… Não sendo esse o seu sentido original e de algum modo esquecendo o papel histórico que realmente desempenhou, a “tolerância” pode significar hoje, pura e simplesmente, “abandono de campo”, decaindo em tolerantismo.

Mais complexo para o catolicismo – como para outras confissões religiosas – seria a repercussão deste estado de espírito em políticas públicas que extravasassem o (legítimo) aconfessionalismo estatal no (incorreto) aconfessionalismo da sociedade, mantendo-se esta, aliás, religiosa em grande parte. Do ponto de vista católico, retenha-se a afirmação de Bento XVI no Porto, a 14 de maio de 2010: “Nada impomos, mas sempre propomos”. Assim encaramos a concidadania ativa.

5. Neste hoje incerto e inevitável, o catolicismo português tenta redefinir-se e relançar-se, com algumas linhas maiores de pensamento e ação, que têm sido refletidas e propostas em vária instâncias e grupos.

Num recente documento de trabalho da Conferência Episcopal Portuguesa, insistia-se nas seguintes, entre outras: dar visibilidade ao testemunho cristão, fazer da caridade a prioridade dos programas pastorais, dar precedência à intimidade com Deus (experiência propriamente religiosa), atender às novas problemáticas de crentes em situação não “sacramental” (recasados, em união de facto, etc), presença nas novas urbanizações e superfícies, bem como junto das minorias e dos mais pobres ou empobrecidos, pronunciamentos breves e didáticos sobre as realidades concretas… (cf. Família cristã, outubro 2011, p. 17). Mas é apenas um começo de resposta ao grande desafio que o futuro nos faz.

D. Manuel Clemente


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Só há uma infelicidade, que é a de não sermos santos

A propósito do dia de Todos os Santos, aqui vai um texto do "Tol"

Sophia de Mello Breyner naquele conto tão conhecido, «O retrato de Mónica», explica que a poesia é-nos dada uma vez e quando dizemos que não ela afasta-se. O amor é-nos dado algumas vezes, e também se o recusamos ele distancia-se de nós. Mas a santidade é-nos dada todos os dias como possibilidade. E se a recusamos teremos de a recusar todos os dias da nossa vida, porque quotidianamente a santidade se avizinha de nós como possibilidade.

Contudo, fizemos da santidade uma coisa tão extraordinária, abstrata e inalcançável, que quase não ousamos falar dela. De certa forma, habituamo-nos a olhar para a experiência cristã como que acontecendo a duas velocidades: o caminho heroico dos santos e a frágil estrada que é aquela de todos os outros, e por maior razão a nossa. Ora esta conceção de santidade não pode estar mais longe daquilo que a tradição cristã propõe. O Concílio Vaticano II, por exemplo, deixa bem claro: a santidade é vocação mais inclusiva e comum. Mas é preciso entender de que falamos quando falamos de santidade.

Bastar-nos-ia certamente ler as bem-aventuranças. Jesus não declara que os bem-aventurados são os outros, os que não estão ali. Jesus olha para a multidão e começa a dizer: “bem-aventurados vós os pobres”, “bem-aventurados vós os aflitos”, “bem-aventurados vós os misericordiosos”. Que quer isto dizer? Que são, no fundo, as nossas pobrezas, fragilidades, aflições, mansidões, procuras e sedes que dão a substância da bem-aventurança, a matéria da santidade. É naquilo que somos e fazemos, no mapa vulgaríssimo de quanto buscamos, na humilde e mesmo monótona geografia que nos situa, na pequena história que dia a dia protagonizamos que podemos ligar a terra e o céu. Falar de santidade em chave cristã passou a ser isso: acreditar que a humanidade do homem se tornou morada do divino de Deus.

Conta-se que um dia, uma dona de casa quis também criar uma seita, pois não estava disposta a deixar-se ficar atrás dos outros, assistindo ao quotidiano espetáculo da sua proliferação. E decidiu então começar uma seita em que ela e a sua empregada, eram, digamos, os “gurus” e os profetas daquela nova bolha. E, a verdade, é que aquilo começou a ter uma certa importância, e era sempre ela e a empregada, a empregada e ela... Passados uns tempos, vieram os jornalistas entrevistá-la. Escolheram, naturalmente, falar com a dona de casa... e inquiriram: “A senhora está contente?...” – “muito, estou muito contente com a igreja que eu fundei, mas olhem que eu já estou a pensar noutra!”.

- “Já está a pensar noutra?”

- “Sim, acho que tem de haver uma seita em que seja só eu profeta”.

Dizer “santificado seja o Vosso nome” é viver no inconformismo em relação às experiências de Deus que são claramente egóticas e insuficientes. É ter coragem, ter audácia de dizer: “Deus sê Deus em mim. Ensina-me a ser discípulo, fiel à escuta, à sugestão do Espírito, à aprendizagem da Palavra, disponível para as suas implicações históricas. O Teu Nome, ó Deus, é um “não Nome”; é um desafio para me colocar cada dia à escuta do Teu Nome. Que eu não me tranque por dentro num confortável reservatório de certezas, mas olhe com frescura os caminhos, esperados e inesperados, que Tu me apontas...”.

Em Toledo, está escrito à entrada de um mosteiro do século XII: “Não há caminhos, há que caminhar”. Dizer “santificado seja o Vosso nome” é, assim, aceitar sermos peregrinos do Nome de Deus... é tomar para si a condição de Abraão, a condição de todo o povo de Deus que foi peregrino do nome e do rosto de Deus, a condição de Jesus que «não tinha onde reclinar a cabeça», construindo uma história de santidade, e nada mais.

«Sede santos, porque Eu, o vosso Deus, sou santo» (Lv 11,45). O escritor Léon Bloy dizia: «Só há uma infelicidade, que é a de não sermos santos». E, contudo, como o testemunha Sophia de Mello Breyner, a santidade é-nos dada, como possibilidade real, em cada dia: «a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias». É como desafio a uma santidade vivida que também São Cipriano explica este segmento do Pater. Incita ele: «peçamos e imploramos para preservar naquilo que começamos a ser, uma vez santificados no batismo. E peçamos isto em cada dia, pois, de facto, em cada dia estamos necessitados de santificação…Peçamos para que permaneça em nós esta santificação».

A flor do mundo é a santidade. Essa forma de Deus presente em todos os tempos, em todas as latitudes, em todas as culturas. O que salva o mundo é a santidade: ela dá flexibilidade à dureza, torna uno o dividido, dá liberdade ao aprisionado, põe esperança nos corações abatidos, esconde o pão no regaço dos famintos, abraça-se à dor dos que choram e dança com outros a sua alegria. A santidade é um sulco invisível, mas torna tudo nítido em seu redor. A santidade é anónima e sem alarde. A santidade não é heroica: expressa-se no pequeno, no quotidiano, no usual. O pecado é a banalidade do mal. A santidade é a normalidade do bem. Como fica demonstrado neste poema de Maria de Lourdes Belchior:

«Hoje é dia de todos os santos: dos que têm auréola
e dos que não foram canonizados.
Dia de todos os santos: daqueles que viveram, serenos
e brandos, sem darem nas vistas e que no fim
dos tempos hão de seguir o Cordeiro.
Hoje é dia de todos os Santos: santos barbeiros e
santos cozinheiros, jogadores de football e porque
não? comerciantes, mercadores, caldeireiros e arrumadores (porque não arrumadoras? se até
é mais frequente que sejam elas a encaminhar o espectador?)
Ao longo dos séculos, no silêncio da noite e à
claridade do dia foram tuas testemunhas; disseram sim/sim e não/não; gastaram palavras,
poucas, em rodeios, divagações. Foram teus
imitadores e na transparência dos seus gestos a
Tua imagem se divisava. Empreendedores e bravos
ou tímidos e mansos, traziam-te no coração,
Olharam o mundo com amor e os
homens como irmãos.
Do chão que pisavam
rebentava a esperança de um futuro de justiça e de salvação
e o seu presente era já quase só amor.
Cortejo inumerável de homens e mulheres que Te
seguiram e contigo conviveram, de modo admirável:
com os que tinham fome partilharam o seu pão
olharam compadecidos as dores do
mundo e sofreram perseguição por causa da Justiça
Foram limpos de coração e por isso
dos seus olhos jorrou pureza e dos seus lábios
brotaram palavras de consolação.
Amaram-Te e amaram o mundo.
Cantaram os teus louvores e a beleza da Criação.
E choraram as dores dos que desesperam.
Tiveram gestos de indignação e palavras proféticas
que rasgavam horizontes límpidos.
Estes são os que seguem o Cordeiro
porque te conheceram e reconheceram e de ti receberam
o dom de anunciar ao mundo a justiça e a salvação»

Dizer “santificado seja o Vosso nome” é dizer a Deus: sê inteiro, não deixes que eu Te divida ou diminua, em função do meu egoísmo e dos meus humores... Sê como és, manifesta-Te em mim e na universalidade, manifesta-Te naquilo que é diferente e oposto a mim, naquilo que me contraria. Livra-me de ser um limite para o Teu amor. Que a Tua Santidade, ó Deus, seja uma estrela que caminha à nossa frente, a coluna de fogo que vai diante de nós, o assobio do pastor que nos serve de sinal… Na nossa humildade, somos a tenda onde Deus vai acampando no mundo, e cada dia vamos, num lugar diferente, num modo novo... Como escrevia Santo Agostinho: «A santificação do Nome de Deus é a nossa santificação». Os crentes não são gestores de uma empresa externa: são servidores e viajantes, nómadas e enamorados peregrinos, leitores e ouvintes, adoradores…

José Tolentino Mendonça
In Pai-nosso que estais na terra, ed. Paulinas